

Bom dia, meus amigos,
A menos de um mês do Natal ficamos embevecidos com a mística da época, mas também mais sensíveis ao sofrimento do outro.
Na última crónica referi a assinatura da Convenção dos Direitos da Criança em 1989 e, a talhe de foice, lembro a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 10 de Dezembro de 1948.
Deveriam ser documentos absolutamente estruturantes e incontornáveis, mas, desgraçadamente, neste mundo hostil em que vivemos têm sido completamente postos de lado, ignorados, vilipendiados, em muitos contextos. E sempre pelos mesmos motivos: a insaciável fome de lucro que leva à mais despudorada desumanização.
Não faço ideia do que será o comportamento da comunicação social aí e o seu rigor informativo ou falta dele. Mas conheço bem o que aqui acontece e dá-me uma raiva e tristeza enormes. Todos os dias somos “bombardeados” com notícias “bombásticas” de sucessos fáceis, crimes violentos, corrupção quase sempre impune. O que é realmente relevante e deveria merecer a mais cuidada atenção, não “passa” e vai-se assobiando para o lado.
Muito haveria a dizer sobre este tema. Ficar-me-ei pela tragédia infame que assola o Iémen nos nossos dias. Desde há anos que a Arábia Saudita, conluiada com os Emirados Árabes Unidos e com a manifesta complacência dos Estados Unidos, massacra aquele povo.
Recentemente o Secretário Geral do Conselho Norueguês afirmava: “Os civis não estão a morrer no Iémen, estão a ser mortos à fome!” E isto porque não há condenação pública por parte dos governos que se dizem “defensores dos direitos humanos” e que permitem, por exemplo, o bloqueio à entrada de alimentos naquele país mártir. O Iémen importava cerca de 90% dos bens alimentares que consumia. Agora não recebe do exterior coisa nenhuma porque é vedado que ali chegue ajuda alimentar.
Há bem pouco tempo a Espanha e a Alemanha “equacionaram” cessar a venda de armas à Arábia Saudita, mas… o dinheiro “falou muito alto” e logo se arrependeram da ideia, que, entretanto, havia sido propalada. Miserável Mundo este! Se a chacina não tiver fim próximo, estima-se que venham a morrer cerca de 13 milhões de pessoas a muito curto prazo, mais de um terço da população, sendo que neste momento morrem de fome, diariamente, 130 crianças!
Que futuro poderão sonhar os desgraçados iemenitas? Nenhum, como é óbvio. E o genocídio continua, sob o “alto” patrocínio internacional.
Estejamos atentos: Hoje é com eles, qualquer dia poderá ser connosco se nada for feito. Tenho esperança, mas esta, por si só, não chega.
Um forte abraço, amigos.
*Silvina Queiroz, professora, escreve às quartas no LUX24.
Por favor fale connosco via email para geral@lux24.lu.
