Esta curta-metragem de animação com produção inglesa, realizada por Zohar Dvir (destacou-se com a curta-metragem “We Are Future Shock”, 2019), narra uma história surreal que transporta o público numa viagem através da mente inconsciente, na esperança de despertar a auto-reflexão.
Produzido no contexto do Royal College of Art, a realizadora imprime um cunho distintivo sustentando a sua narrativa numa premissa de Carl Jung. Se a psicologia analítica é o ponto de partida, a ilustração da obra de Edvard Munch sobre um momento de profunda angústia e desespero existencial é o contexto!
Prepare-se para assistir a pouco mais de 6 minutos de filme como se fosse um diálogo interno sobre a busca de respostas, ou seja, conversas ou pensar com o EU.
No fundo “Mercury’s Retrograde” é uma ilustração do pensamento e sentimento artístico intimamente ligado à psicologia geral e não apenas a da arte!
Até que ponto um objecto, como a bola 8 de bilhar, se torna no nosso “conselheiro”?
Tal e qual um telemóvel… objecto hipnotizador, fomentador de estados de transe quase que “permanentes”, alheando parte significativa da humanidade num “viver” a “pseudo realidade” instigada pelo próprio ecrã (limitado nas suas dimensões).
Permita-se à viagem alucinante pela inconsciência, desfrutando das paisagens impossíveis que evocam M.C. Escher e alguns personagens estranhos dos quais destaco o soldado com cabeça de peixe lembrando “Full Metal Jacket”, 1987!
Num olhar mais atento e profundo, seremos capazes de observar os efeitos desumanizadores dos quais somos cada vez mais alvo?
A jovem protagonista projecta efectivamente uma lembrança de previsão do futuro que a levará à iluminação espiritual?
Este filme pode parecer uma fantasia explorando alguns temas contemporâneos, mas vai mais fundo escondendo uma verdade trágica sobre toda uma geração!
O notável e distinto estilo desta curta-metragem deve-se ao facto de a realizadora usar vários softwares como o Premiere After Effects, Photoshop e o Cinema 2, 3 e 4D ampliando o tom bizarro da narrativa com uma estética muito própria!
O leitor irá desfrutar de uma experiencia visual estranhamente atraente guiada por um argumento incomum o qual provocará momentos em que nos questionamos se efectivamente podemos tomar certas decisões e se inclusivamente confiamos o suficiente em nós próprios para tal.
Uma das curiosidades é o “Mercury’s Retrograde” ser a denominação sobre a forma como a órbita do nosso planeta interage com as órbitas dos outros planetas.
Por vezes os planetas parecem estar a viajar para trás no céu noturno em relação ao zodíaco.
Especificamente o último período de movimento retrógrado de Mercúrio em 2020 iniciou-se a 14 de outubro terminando a 3 de novembro!
De acordo com a prática milenar da astrologia, todos somos influenciados pelo efeito retrógrado de Mercúrio.
Entre as várias nomeações para festivais de animação destaque ao galardão “Student Award” no Encounters Film Festival que decorreu em setembro de 2020.
No passado dia 14 de Outubro de 2020 o filme estreou na Internet.
Bom filme!
Pedro Cunha
Para assistir à curta-metragem:
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