
O Presidente russo, Vladimir Putin, defendeu hoje que o confronto com as forças antirrussas na Ucrânia era inevitável e apenas uma questão de tempo, devido ao crescimento do neonazismo no país vizinho.
“A Ucrânia começou a ser transformada numa base antirrussa, os rebentos do nacionalismo e do neonazismo, que existem há muito tempo, começaram a crescer no país”, disse Putin durante uma visita ao cosmódromo Vostochny, no leste da Rússia, com o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko.
Ao conversar com trabalhadores da indústria espacial russa no cosmódromo da Vostochny, Putin disse que o “crescimento do neonazismo foi especialmente cultivado” na Ucrânia.
“O neonazismo, infelizmente, tornou-se um facto da vida num país relativamente grande e próximo de nós. Isto é uma coisa óbvia: [o confronto] era inevitável, a única questão era o tempo”, afirmou, citado pela agência noticiosa oficial TASS.
Ao invadir a Ucrânia, em 24 de fevereiro, a Rússia alegou que pretendia “desmilitarizar e desnazificar” o país vizinho.
Putin reafirmou que a “operação militar especial” na Ucrânia, como a invasão é oficialmente designada por Moscovo, visa ajudar o povo da região ucraniana separatista do Donbass e “garantir a segurança da própria Rússia”.

“Obviamente, não tínhamos outra escolha, isso é certo. E não há dúvida de que os objetivos serão alcançados”, disse Putin aos trabalhadores da indústria espacial russa.
“Os objetivos são absolutamente compreensíveis e nobres”, insistiu Vladimir Putin.
Putin disse que a Rússia foi forçada a ajudar o povo do Donbass “porque as autoridades ucranianas, empurradas pelo Ocidente, recusaram-se a cumprir os Acordos de Minsk com vista a uma resolução pacífica dos problemas” nesta região do leste da Ucrânia, em guerra com Kiev desde 2014.
“Era simplesmente impossível continuar a suportar este genocídio, que durou oito anos”, afirmou.
Putin disse também que o Ocidente não conseguirá isolar a Rússia com as sanções decretadas na sequência da invasão da Ucrânia.
“É certamente impossível isolar qualquer pessoa no mundo de hoje, especialmente um país tão grande como a Rússia”, argumentou.
O Presidente russo assegurou que Moscovo trabalhará com os seus parceiros “que queiram cooperar” para ultrapassar a crise suscitada pelas sanções internacionais.
Putin alegou que, já em 2014, quando a Rússia foi alvo de sanções por ter anexado a península ucraniana da Crimeia, a agricultura russa conseguiu transformar-se numa indústria de alta tecnologia.
Disse também que, em 1961, a então União Soviética estava em completo isolamento do ponto de vista tecnológico, mas alcançou feitos importantes, como o lançamento do primeiro satélite terrestre artificial e o primeiro cosmonauta a viajar no espaço.
“Fizemos tudo em condições de completo isolamento tecnológico, alcançámos êxitos muito grandes”, afirmou, citado pelas agências EFE e AP.
A visita de Putin a Vostochny marcou a sua primeira viagem conhecida fora de Moscovo desde que a Rússia invadiu a Ucrânia.
Numa mensagem às forças aeroespaciais russas que estão a prestar “assistência às repúblicas populares do Donbass”, Putin disse que “agem com coragem, competência, eficiência e eficácia, e utilizam os mais modernos tipos de armas com características únicas e inigualáveis”.
Putin denuncia alegados massacres em Bucha como uma falsificação
Vladimir Putin disse hoje que o massacre de Bucha, alegadamente perpetrado pelas tropas russas na região de Kiev, é uma “falsificação” que comparou a acusações contra o homólogo e aliado sírio, Bashar al-Assad.
As autoridades ucranianas anunciaram hoje que já contabilizaram 400 civis mortos em Bucha, alegadamente vítimas de massacres das forças russas antes de se retirarem daquela cidade e de outras localidades nos arredores da capital da Ucrânia.
Numa conferência de imprensa com o Presidente da Bielorrússia após uma visita ao cosmódromo Vostochny, no leste da Rússia, Putin disse que Alexander Lukashenko lhe entregou documentos relativos a Bucha e considerou que a acusação de massacres russos é falsa.

Putin recordou o alegado arsenal químico iraquiano que serviu de pretexto para a invasão do Iraque pelos Estados Unidos, em 2003, e que foram encenadas provocações semelhantes na Síria, acusando Al-Assad de utilizar armas químicas.
“Depois, verificou-se que se tratava de uma falsificação. A mesma farsa está em Bucha”, disse o líder russo, citado pela agência oficial TASS.
Putin disse também que sempre que um líder ocidental lhe fala em atrocidades na Ucrânia, recorda a destruição causada pelos aviões norte-americanos em cidades sírias como Al-Raqa, onde morreram centenas de civis em 2017.
“Ninguém reagiu então”, disse.
Putin salientou que a campanha militar na Ucrânia “está a decorrer de acordo com o plano” e que a sua duração dependerá da “intensidade dos combates”, o que, segundo admitiu, implica perdas do lado russo.
“A nossa missão é atingir todos os objectivos estabelecidos, minimizando ao mesmo tempo as baixas. Vamos agir com firmeza, calma, de acordo com o plano que foi inicialmente elaborado pelo Estado-Maior”, disse, citado pela agência espanhola EFE.
Quanto à crítica do chanceler austríaco, Karl Nehammer, de que está “imerso numa lógica bélica”, Putin manteve a sua posição.
“A nossa lógica é simples. O nosso objectivo é ajudar as pessoas que vivem no Donbass, que sentem uma ligação inquebrável com a Rússia e que durante oito anos foram vítimas de genocídio”, respondeu, reafirmando um dos objectivos da invasão da Ucrânia.

Explicou que as acções militares noutras regiões ucranianas estão relacionadas com a intenção de neutralizar as forças inimigas, destruir infra-estruturas militares e “criar condições para acções militares mais activas no território do Donbass”.
Putin admitiu que a operação russa na Ucrânia é uma “tragédia”, embora inevitável, e considerou que o mundo está a assistir à “ruptura do sistema mundial unipolar que foi formado após a desintegração da União Soviética”.
“Muitos dizem que os Estados Unidos estão prontos para lutar contra a Rússia até ao último ucraniano. Dizem-no ali e aqui. Essa é a quintessência do que está a acontecer”, acrescentou.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, desencadeando uma guerra que provocou um número de vítimas civis e militares ainda por contabilizar.
A guerra, que entrou hoje no 48.º dia, levou à fuga de mais de 11 milhões de pessoas, incluindo 4,6 milhões para países vizinhos, naquela que é considerada a pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
As Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária devido à guerra na Ucrânia.
A comunidade internacional reagiu à invasão russa com sanções económicas e políticas contra Moscovo, e com o fornecimento de armas a Kiev.
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