
Com a aproximação das férias colectivas de Verão ainda são muitas as dúvidas que assolam os imigrantes portugueses no Luxemburgo, que estão divididos sobre “ir ou não ir a Portugal?” por causa da pandemia do Covid-19.
Pela primeira vez em anos há muitos portugueses que não tencionam ir a Portugal, mas também há quem não abdique dos velhos costumes das merecidas férias no torrão natal, movidos pela saudade da família e amigos.
“Este ano não vamos de férias de Verão a Portugal, por causa do medo de infectar e ser infectado. O Covid-19 é uma doença silenciosa e fazer esta viagem, de cerca de 2.000 quilómetros, de carro, com paragens em vários locais com toda a família é de risco. Os meus pais também são pessoas vulneráveis, de risco”, disse, ao LUX24, Susana Marques, imigrante portuguesa no Luxemburgo.
As dúvidas são muitas num ano delicado em que a pandemia do Covid-19 obriga a muitas regras, como o uso de máscara, distanciamento social, entre outras.
Pela primeira vez nos últimos sete anos, Susana, o marido Albino e os três filhos menores vão “falhar” o Verão em Estarreja e Anadia, distrito de Aveiro, de onde são naturais, e vão ficar pelo Luxemburgo.
“É impensável ficar sem abraçar, sem beijar aqueles por quem sentimos saudades. Aquela ânsia de um abraço que todos os emigrantes sentem na hora de chegar e na hora vir embora. Vir embora sem o aconchego desse abraço seria doloroso”, rematou esta imigrante portuguesa.

“Sem certezas do que fazer”, Marília Patrício e a família ainda estão a “ponderar” as férias de Verão em Portugal. O Covid-19 deixou muitas “incertezas” e “zelar” pelo bem-estar dos familiares em Portugal é mais importante dos que duas semanas de férias, apesar da saudade.
“Gostávamos muito de ir a Portugal para ver e estar com a nossa família, mas como já são idosos e vulneráveis estamos a ponderar ainda se vamos ou não. Caso a decisão seja para ir, será de carro, embora a viagem de avião não esteja posta de lado”, afirmou Marília Patrício ao LUX24.
Marília, o marido Paulo e o filho Santiago costumam intercalar as férias de Verão “um ano em Portugal, outro ano por cá [Luxemburgo]” ou noutro local.

O Covid-19 veio modificar os planos previstos para 2020 por esta família natural da Guia e Carnide, no concelho de Pombal.
“Não vamos todos os anos a Portugal [no Verão], mas 2020 ainda é uma incógnita. O Covid-19 causa algum receio principalmente porque temos pessoas de risco na família. Este ano não será o primeiro e certamente o último, caso decidamos ficar, mas é triste porque prometi ao meu pai lá ir festejar com eles os seus 70 anos”, lamentou Marília Patrício ao nosso jornal online.
Embaixador, Conselheiro e Associações apelam ao cumprimento das regras
A comunidade portuguesa no Luxemburgo é de cerca de 100.000 pessoas e ronda 16% da população do Luxemburgo.
A última semana de Julho e as duas primeiras de Agosto marcam as férias colectivas de Verão da construção civil.
O Luxemburgo “fica vazio”. O frenesim do dia-a-dia cai a pique. O sector da construção civil emprega mais de 18.000 trabalhadores (a maioria lusófonos), quase um terço da população total do Grão-Ducado [626 mil habitantes].
Fim de Julho, início de Agosto é sinónimo de romaria a Portugal e, embora este ano a pandemia tenha travado a habitual euforia, a ida a Portugal pode ser feita cumprindo as três medidas mais eficazes de combate a doença: distanciamento social, uso da máscara e a higienização das mãos com regularidade.
“O que eu diria às pessoas que vão partir de férias é que, em todo o momento, na sua casa, na viagem, no destino, mantenham o distanciamento social, usem a máscara e façam as higienização das mãos com regularidade, porque está provado que são as três medidas mais eficazes para combater a doença”, disse recentemente o Embaixador de Portugal no Luxemburgo, António Gamito, a uma pergunta do LUX24, durante uma conferência de imprensa conjunta com a ministra luxemburguesa da Saúde, Paulette Lenert, e o embaixador cabo-verdiano Carlos Semedo.

“É essencial que as pessoas tenham a responsabilidade de tomar todos os cuidados para as férias de Verão. Todos devem ir a Portugal porque todos têm direito às suas férias, mas devem respeitar as regras mínimas e assegurar os familiares em Portugal que não os vão contaminar”, reforçou aos jornalistas, no final da conferência de imprensa promovida pelo Ministério da Saúde.
António Gamito apelou ainda aos portugueses para que evitem locais onde haja grandes concentrações de pessoas, seja em casas particulares, cafés ou bares.
“Não é preciso ir ao café ver o jogo de futebol, onde estão 50 pessoas de pé, desrespeitando as regras. Privem-se, poupem-se, é preferível privarem-se de um momento de alegria do que estar, pelo menos, três semanas num hospital, deitado, sem saber se sai de lá ou não”, exortou António Gamito, apelando a todos os portugueses para seguirem “três regras básicas de protecção: uso da máscara, higienização das mãos e distanciamento social”.
Um dos dois Conselheiros das Comunidades Portuguesas no Luxemburgo, João Verdades, vai fazer férias, como milhares de portugueses radicados no Luxemburgo, e, no seu carro, tenciona ir até Portimão, Algarve, de onde é natural.
João Verdades compreende o “medo e receio” existente na comunidade portuguesa antes deste período de férias em que o Covid-19 voltou a dar sinais preocupantes. O Conselheiro deixa a sua recomendação aos compatriotas.
“Os cidadãos deverão respeitar as leis em vigor e as instruções dadas pelas autoridades sanitárias dos países respectivos por onde passem. Devem fazer, antes de partir, uma rigorosa avaliação do risco da viagem, seja ela qual for (quer na ida, quer no regresso) e, se necessário e/ou solicitado, fazer quarentena voluntária”, aconselha, ao LUX24, o advogado João Verdades, relembrando que “a violação de qualquer regra legal, poderá ter sanções civis ou penais”.

A presidente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL), Elisabete Soares, antecipou-se e já foi de férias em Junho, para ver a família, nomeadamente a mãe, “mas sempre respeitando” todas as regras de distanciamento social e uso de máscara.
No Verão, propriamente dito, vai ficar pelo Luxemburgo e compreende os receios dos compatriotas lusos.
“Os portugueses têm medo e receio de ir a Portugal, seja de carro, seja de avião. No entanto, apesar das incertezas todas há uma enorme consciência que do perigo que esta pandemia pode ter na vida de cada um”, começou por dizer Elisabete Soares ao LUX24.
“Os portugueses vão a Portugal, mas em menor número. Penso que o carro será a escolha do maior número de portugueses. Foi o que se verificou este fim-de-semana de semana nas auto-estradas francesas” disse a dirigente associativa.
Elisabete Soares deixa igualmente um apelo à “responsabilidade individual” e ao “comportamento em sociedade”, temendo que “as pessoas que não respeitam os gestos barreira aqui, provavelmente também não o farão em Portugal”.

“Da responsabilidade individual ao comportamento em sociedade, no Luxemburgo ou em Portugal, o comportamentos cada um é e será determinante para se combater esta pandemia. Aconselho os portugueses a compreenderem que estas férias são diferentes e que devem manter os gestos barreira em todas as circunstâncias”, rematou Elisabete Soares, natural de Penamacor – Vila Madeiro, distrito de Castelo Branco.
De acordo com dados oficiais (em língua portuguesa), o Luxemburgo contabiliza até hoje um total de 111 mortes e 4925 casos de infecção por Covid-19, desde que foi conhecido o primeiro caso no país no dia 29 de fevereiro de 2020.
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